O devoto dos orixás pode se vestir com simplicidade, mesmo sendo filho de deuses, reis e guerreiros. Não precisa se fantasiar, pois sua força está no ori, e não na aparência. No entanto, quando a pessoa é iniciada em uma divindade ela deve saber o que veste. Por exemplo, o tradicional filá possui funções ritualísticas, como proteger o ori do devoto. Outro exemplo: o colar de Ifá permite identificar os devotos desse orixá e, ao mesmo tempo, protege o devoto contra adversidades e atrai as bênçãos do orixá. A questão não é ostentar: é estabelecer vínculos.
domingo, 25 de março de 2018
Falou tudo grande mestre africano
No culto aos orixás fala-se que "a cabeça não precisa ser grande para ostentar uma coroa" e que "o pescoço não precisa ser comprido para ostentar um colar". Em outras palavras, não deveríamos julgar as pessoas pela aparência.
O devoto dos orixás pode se vestir com simplicidade, mesmo sendo filho de deuses, reis e guerreiros. Não precisa se fantasiar, pois sua força está no ori, e não na aparência. No entanto, quando a pessoa é iniciada em uma divindade ela deve saber o que veste. Por exemplo, o tradicional filá possui funções ritualísticas, como proteger o ori do devoto. Outro exemplo: o colar de Ifá permite identificar os devotos desse orixá e, ao mesmo tempo, protege o devoto contra adversidades e atrai as bênçãos do orixá. A questão não é ostentar: é estabelecer vínculos.
O devoto dos orixás pode se vestir com simplicidade, mesmo sendo filho de deuses, reis e guerreiros. Não precisa se fantasiar, pois sua força está no ori, e não na aparência. No entanto, quando a pessoa é iniciada em uma divindade ela deve saber o que veste. Por exemplo, o tradicional filá possui funções ritualísticas, como proteger o ori do devoto. Outro exemplo: o colar de Ifá permite identificar os devotos desse orixá e, ao mesmo tempo, protege o devoto contra adversidades e atrai as bênçãos do orixá. A questão não é ostentar: é estabelecer vínculos.
sábado, 24 de março de 2018
Lorogun rito de guerra quaresma sexta feira santa
Mandar Orixás para a guerra?
Trata-se de um resquício do período constrangedor da escravidão, quando os senhores dos engenhos não permitiam aos negros dançarem no decorrer da Semana Santa. Deveriam mostrar tristeza, mesmo contra a vontade. (Beniste)
O Lórogún um ritual remanescente da escravidão.
Por Bàbálòrìṣà Erick Óbokún
19/04
O Ritual de mandar os òrìṣà para a guerra, no período da Quaresma, sabemos que é costume de algumas famílias do Batuque Afro-gaúcho, fechar o Yàrá-òrìṣà (quarto de òrìṣà) assim que chega o Carnaval, ficando o período da Quaresma sem sacrifícios e restringe ao máximo as iniciações, neste período não há toques nem festas religiosas, por isso, não há iniciações, claro que nem uma iniciação está vinculada a toque, porem o tambor anuncia festas decorrentes de iniciações, claro que nem uma iniciação está vinculada a toque, porem o tambor anuncia festas decorrentes de iniciações.
Entre estas familias do Batuque do R. S., se dedicam a rituais chamadas de Missa do Égún, um ritual vinculado aos ancestrais e antepassados que são homenageados neste período. Quando não estão dedicados a rituais deÉgún (culto aos restos mortais dos antepassados) ele se voltam para os trabalhos com Exú e Pomba-Giras, entidades que trabalham para proteção ou demanda dos templos.
Este período entre o Carnaval e a Páscoa Cristã, é chamado por alguns de Lórogún, um costume que foi adquirido do Candomblé, assim como narra Beniste, em seu livro Ọ̀run Àiyé.
- [...] O Lórogún é uma cerimónia que marca a paralisação das atividades do Candomblé, e que coincide propositadamente com o período da Quaresma católica. É realizado após o Carnaval, com o Ṣiré Ògún - brincadeira de guerra, numa simulação de luta entre duas alas previamente escolhidas. A ala em que primeiro se manifestar o òrìṣà será a vencedora. O Lórogún é a motivação para o descanso dos componentes do Candomblé. [...] (p. 332)
E reforçado o Lórogún, em outro livro, As águas de OXALÁ, o autor detalha melhor este ritual do Candomblé.
- [...] O Lórogún é um ritual que se realiza no primeiro domingo após o Carnaval. Literalmente, Orò - ritual, Ogun - guerra, batalha que revive a ida dos òrìṣàpara a guerra com uma representação de batalha entre dois grupos que se enfrentam: o exercito de Ṣàngó, carregando uma bandeira vermelha, e o de Òṣàlá, carregando um estandarte branco. Não há sacrifícios, somente comidas secas. No período em que os òrìṣà estão ausentes, o Candomblé paralisa suas atividades, só terminando em 29 de junho, quando Ṣàngó retorna para a sua festa. Somente a oferenda do Àmàlá é mantida todas as quartas-feiras.Trata-se de um resquício do período constrangedor da escravidão, quando os senhores dos engenhos não permitiam aos negros dançarem no decorrer da Semana Santa. Deveriam mostrar tristeza, mesmo contra a vontade. (o grifo é nosso)
- Durante este período apenas um òrìṣà permanece na Casa para tomar conta dela e dos filhos. O jogo é quem determina, a cada ano, qual será o òrìṣà. Durante este período fica na casa de Ṣàngó um recipiente com grande quantidade de pipoca com a função de garantir a paz na casa. Quando Ṣàngó retorna, ela deve ser despachada.
- Para a realização deste ritual, que se inicia, geralmente, às 19 horas, portanto mais cedo, primeiramente faz-se uma procissão passando-se pelas Casas de todos os òrìṣà,como se fosse uma viagem por toda a cidade. terminada a caminhada, segue-se para o Barracão formando-se lá duas alas, uma à esquerda e outra à direta. O exercito de Ṣàngó, com todos usando roupas vermelhas e brancas, e a mais velha do grupo empunhando o estandarte vermelho; o de Òṣàlá, da mesma forma, porém, vestido com roupas brancas e a mais velha do grupo empunhando o andor de Òṣàlá. A função de Òṣàlá é apaziguar as disputas. Todos são enfeitados com folhas de samambaia, em formato de coroa para as mulheres e folhas de tiracolo para os homens. Trata-se de um ritual muito alegre, com todos em suas posições, e alguns cânticos são entoados:
- Olórògun olórògun.
- Elémasa sá o
- Olórògun e jẹ wa pá ìwà
- Olórògun pá
- Elémasa sá o
- Olórògun e jẹ wa pá ìwà
- Akaja
- Lógún masa
- Ọlọ́wọ
- Bẹru já [...](p. 158 á 159)
No Batuque do R.S. os antigos diziam que no período da Quaresma as divindades iriam para a guerra, vejam como segue o ritual e conceitos empregados neste período;
Na semana do Carnaval algumas famílias do Batuque do R.S., fecham o Yàrá-òrìṣà, da mesma forma que procede em cerimonias fúnebres, esvaziando as quartinhas e apagando as velas, neste período o templo fica com suas atividades encerradas. Aproveitando este tempo ao qual as quartinhas estarão vazias, são dietas as devidas manutenções de pintura, e assim permanecem secas durante toda a Quaresma, acreditando que neste período as divindades foram para a guerra, por isso, não há toques, nem iniciações, nem mesmo consulta através dos búzios ou Ebọ para as divindades. Assim ficando até a Sexta-Feira Santa, a qual os iniciados do templo se reúnem no mesmo para preparar os àṣẹ e comidas de òrìṣà para o Sábado de Aleluia, para o retorno das divindades. Enquanto os templos preparam uma limpeza espiritual usando determinadas divindades, para passar nas pessoas e no templo. Após a limpeza espiritual, enchem as quartinhas novamente e lavam os olhos com algodão e água sagrada da quartinha de Òòṣàálá, simbolizando a retirada de qualquer magia e ou feitiço que possa prejudicar a visão dos sacerdotes e ou dos iniciados em seu oráculo ou rituais.
Enfim o tambor inicia uma sessão de cantigas para chamada dos òrìṣà, acredita-se que é Xapanã, quem traz as divindades da guerra de volta para o templo.
Conforme citamos acima, nem todas as famílias praticam o ritual de enviar os òrìṣà para a guerra, no período da Quaresma, há templos que não fecham os Yàrá-òrìṣà, seguindo com as atividades normalmente neste período, ficando livres para praticar a religião sem preceitos ou restrições, seguem dois exemplos de famílias e raízes diferentes;
Bàbálòrìṣà Lucas Prates, Ilê Oxalá e Cacique 7 Montanhas, iniciado por Henrique de Ògún, Nação Batuque, Raiz Ijeṣà. Porto Alegre, Brasil.
Ìyáòrìṣà Patricia Nievas, Reyno Africano Oṣala, 14 años de aprontamento com, Nação Batuque, Raiz Jeje-Ijeṣà, iniciada por Tinancia de Osala (Igba e), Leopoldo de Ianza (igba e), Jorge Veradi Ti Sango, Buenos Aires, Argentina.
Considerações finais
Como puderam observar, o Lórogún, de origem escrava imposto pelos senhores do engenho, praticada pelas casas de Candomblé, não possuem nem uma similaridade com os ritual praticado pelo Batuque do R.S.
Sabemos que nem todas famílias do Batuque do R. S., fecham o seu Yàrá-òrìṣà neste período, da mesma forma que o Lórogún, no Candomblé, não tem sido divulgado.
Se divindades se afastam da terra, segundo narram estas famílias do Batuque R.S., quando enviam os òrìṣà para a guerra, e só voltam no Sábado de Aleluia as 11 horas da manhã, numa cerimonia que Xapanã os trazem da guerra. Devemos considerar que sem òrìṣà, não há o jogo de búzios e os serviços religiosos deveriam parar, afinal seria um período ao qual o mundo estaria sem a presença destas divindades, e até mesmo para aqueles iniciados suas divindades não estariam com eles. Por isso, é um período de muita vigília e segurança para preservar o bem estar espiritual familiar.
Notem que o Sábado de Aleluia, é o único dia ao qual estas famílias aceitam que as divindades possam chegar durante o dia, pois acreditam que o òrìṣà só chega a noite, com exceção dos serões de cortes, que geralmente começa na madrugada e terminam de cortar para Òòṣàálá, já com o sol claro e as divindades ainda no mundo.
As demais familias que não seguem o Lórogún, praticam seus rituais normalmente, dão toques e fazem iniciações sem encerrar atividades na Quaresma ou Semana Santa, sem dar atenção aos rituais Católicos.
Quanto ao ritual do Lórogún, nas atividades do Candomblé, não temos mais relatos da pratica, eu acredito que poucos templos ainda o pratiquem.
Bibliografia
BENISTE, José. Ọ̀run Àiyé, O encontro entre dois mundos. Editora Bertrand Brasil, 1997.
BENISTE, José. As águas de OXALÁ, ÀWỌN OMI ÒṢÀLÁ. Editora Bertrand Brasil
quinta-feira, 8 de março de 2018
sábado, 16 de março de 2013
A Volta de Obaluayê
Após muitas viagens pelo mundo afora, Obaluayê, cansado das muitas guerras e sofrimento, finalmente chega à aldeia onde nascera.
Caminhando pelos recantos quase esquecidos na memória, perde-se em pensamentos saudosos da infância que longe vai. Logo percebe a euforia dos habitantes e procura saber o porquê dessa agitação. Soube então que estava acontecendo uma grande festa com a presença de todos os Orixás e assuntando daqui e dali descobriu o local da comemoração. Dirigiu-se ao barracão onde os grandes se reuniam e ficou a espreitar por entre as frestas a riqueza e alegria daqueles que eram seus irmãos e que, provavelmente, nem lembravam mais dele. Devido à sua medonha aparência não ousava entrar e apresentar-se.
Ogum, ricamente vestido com sua armadura brilhante, foi o primeiro a perceber a presença e a angústia do Orixá que se escondia envergonhado e uma ponta de dó tomou-lhe o peito. Rapidamente apresentou-se e o cobriu com uma roupa de palha, que ocultava todo seu corpo e rosto doente, e o convidou a entrar e aproveitar a alegria dos festejos.
Apesar de envergonhado, mas seguro por estar coberto, ele entrou, mas com tristeza percebeu que ninguém se aproximava dele. Iansã, sempre atenta, a tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a situação de Obaluayê e dele se compadecia, por isso começou a elaborar um plano. O xirê estava animado e todos se divertiam muito. Os Orixás dançavam alegremente com suas equedes. Aproveitando-se disso, Iansã rodou pelo salão e quando chegou bem perto dele soprou as roupas de palha que cobriam sua pestilência.
Uma ventania intensa varreu todo o espaço, as palhas voaram para longe e as feridas de Obaluayê pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão. O ambiente emudeceu, podia-se ouvir o zumbido de um mosquito quando todos os olhares se voltaram para o recém-chegado. Obaluayê, o deus das doenças, estava ali, paralisado e inseguro, mas transformado num jovem belo e encantador. O silêncio foi cortado pelo frenético som dos tambores que soaram em respeito ao grande Orixá e todos louvaram sua presença: - Atotô!
A partir desse dia, Obaluayê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos dos mortos, partilhando pela eternidade o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.
A partir desse dia, Obaluayê e Iansã Igbalé tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos dos mortos, partilhando pela eternidade o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.
Pai Oxala e seus filhos
domingo, 26 de maio de 2013
As Características dos filhos de Oxalá
Muitos médiuns do Candomblé vão até minha página do Orkut para solicitar que eu escreva também sobre os filhos dos orixás que, tradicionalmente, não coroam na Umbanda. Atendendo a esses pedidos, começo hoje uma série contemplando esses orixás.
Os filhos de Oxalá são, quase sempre, pessoas muito tranqüilas que conseguem manter a calma até nos momentos mais difíceis; conseguem o respeito mesmo que não se esforcem efetivamente para obtê-lo. São amáveis e pensativos, mas nunca de maneira servil. Dedicados e caprichosos tudo fazem para manter tudo sempre bonito, limpo e organizado. Respeitam a todos, mas exigem ser respeitados.
Sabem argumentar com segurança e firmeza e gostam de estar sempre bem informados sobre todos os assuntos. No trabalho, como na vida, gostam de centralizar tudo em torno de si mesmos. São reservados, mas raramente orgulhosos.
Os filhos desse orixá costumam se relacionar bem com todos, mas precisam de um certo tempo de convivência para levantar o véu da desconfiança que sempre carregam consigo.
Tornam-se excelentes pais e mães amorosas, Têm um ótimo relacionamento com as crianças, apesar de sempre exigir delas uma postura adequada.
Seu defeito mais comum é a teimosia, principalmente quando tem certeza de suas convicções. Toma-se também por defeito sua inconstância. Zangam-se e se magoam com grande facilidade.
Dificilmente conseguem expor seus problemas por mais íntimos que se tornem de alguém, preferindo longos períodos de silêncio consigo mesmos, para achar a solução daquilo que os afligem.
No Oxalá mais velho (Oxalufã) se revela uma grande tendência à ranzinzice e à intolerância, enquanto no Oxalá novo (Oxaguiã) o que mais chama a atenção é o furor pelo debate e pela argumentação.
Quase sempre se tornam lideres em suas comunidades pelo poder de comando que demonstram.
Por incrível que possa parecer são os mais vaidosos entre os filhos dos orixás, fazendo questão de sempre apresentarem-se impecáveis, mesmo que sem luxo algum. O porte majestoso que quase sempre os distingue pode, com o tempo, deixá-los ligeiramente encurvados.
Mãe oba e seus filhos
sábado, 29 de junho de 2013
Características dos Filhos de Obá
Se existe uma pessoa que ainda crê no velho ditado: “Para mim basta um amor e uma cabana”. Pode acreditar, é um filho de Obá. Capaz dos maiores sacrifícios por uma vida amorosa feliz, o coroado por ela, anula-se em favor da pessoa amada e vive para satisfazer-lhe os desejos.
São pessoas fortes,decididas e frequentemente atiram-se nas causas feministas ativas, mesmo quando nasceram homens, Costumam ter gestos e atitudes agressivos por estarem sempre tentando se defender e esquecer os traumas de experiências mal sucedidas mesmo quando, conscientemente, já não lembre delas.
Dificilmente um filho de Obá deixa de realizar-se profissional e materialmente, já que ataca com unhas e dentes todas as oportunidades que lhe são dadas. Tem um certo complexo de inferioridade intrínseco que o faz lutar cada vez mais para se sobressair em seu meio.
Dono de uma sinceridade brusca e ferina que o afasta dos mais sensíveis, não faz a mínima questão de parecer agradável, no entanto, pode se tornar um amigo extremamente dedicado e fiel a quem conseguir penetrar na carapaça que é seu modo de ser.
Quase sempre infelizes no amor, por esse temperamento irascível, quando se apaixonam esquecem todas suas certezas e lutas para dedicar-se integralmente ao ser amado
Com facilidade despertam a inveja de seus inimigos e têm que andar sempre de sobreaviso para não serem pegos em armadilhas.
No lado negativo são ciumentos, possessivos, complexados e propensos à depressão. Não são maldosos mas podem se tornar vingativos por causa de um ressentimento causado por outrem. Alguns podem adquirir sintomas de hipocondria, mas raramente se deixam abater por ela.
Laroye pai tiriri
Exu Tiriri

Portugal, final do século dezenove. Passam das 23 horas quando Bartolomeu Custódio bate à porta de seu primo e é atendido pelo rapaz que, visivelmente, foi acordado pelas insistentes batidas. - Primo, preciso urgente de ti! - Fernando manda-o entrar deixando claro estar contrariado com a visita repentina em tão tardio horário. - Nem me fale Bartolomeu! São réis o que deseja. Não é? - O homem baixa a cabeça e responde num fio de voz: - Perdi mais de mil no carteado do Barão senão pagar ele ameaçou acabar com minha família. - Mil? Estás louco? Não faz um mês que paguei sua divida de quinhentos e já vens aqui pedir-me mais de mil? Onde vais parar, ou melhor, aonde vou eu parar com tantos réis que se vão ladeira abaixo? Achas que por ter tido sorte na vida tenho que carregá-lo nas costas? A ti, tua família, teu maldito vicio? - Bartolomeu ouve tudo sem levantar os olhos. - Primo, só tenho a ti para recorrer. O que será de minha mulher e meus filhos? Juro-te que nunca mais jogarei um só conto em nada! - O rapaz está descontrolado e replica aos gritos: - Já ouvi essa ladainha muitas vezes e não vou mais cair nessa conversa. Vá ao Barão e diga que não tem, não conseguiu, e ele que espere. Ainda ontem a pobre de tua mulher veio até aqui pedir-me comida. Crês nisso? Tive que dar comida a tua família. Enquanto tu espezinha-me com dívidas de jogatina. Olhe para ti! Estás em estado lamentável, além de cheirar a vinho à distância. Saia já de minha casa. - Dirige-se para a porta e a abre com violência. Bartolomeu levanta-se lentamente, de seus olhos caem lágrimas, é duro ter que ouvir tudo que está ouvindo, apesar de ser a mais pura verdade. Faz ainda uma última tentativa. - Primo, pelos teus filhos, ajuda-me! Fernando continua parado à porta apontando a rua. - Fora daqui, vagabundo! Nunca mais me apareça, porco imundo! Sem mais nada dizer o homem retira-se lentamente ouvindo o baque violento da porta atrás de si. Caminha tropegamente enquanto as lágrimas embaçam sua visão. Sabe que fez tudo errado. Sempre! Foi mulherengo, bêbado, viciado em jogos. Tem a exata noção do péssimo pai e marido que é. Seu primo tem toda a razão em humilhá-lo. Sem perceber, depois de muito caminhar, está sobre uma ponte. Talvez seja essa a única saída. Faz uma pequena prece e atira-se nas águas profundas do rio. O espírito de Bartolomeu Custódio durante anos perambulou por sendas escuras e tortuosas. Passado um longo tempo e depois de rever erros e acertos de vidas anteriores, foi amparado por mentores que o encaminharam para a labuta do resgate cármico. Hoje, trabalhador de nossos terreiros, é conhecido como o grande Exu Tiriri, elegante, educado e sempre com um profundo respeito para com seus consulentes, nem de longe lembra a triste figura apresentada neste texto.
Laroiê Seu Tiriri!
Luiz Carlos Pereira
quarta-feira, 7 de março de 2018
Um blog para todos que, como eu, amam a Umbanda.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Oxalá espanta a morte

Houve um tempo em que Iku, a Morte, cansou-se de vagar pelos quatro cantos do mundo a ceifar vidas. Resolveu então escolher uma cidade ao acaso e lá fazer sua morada. Não via necessidade de sair procurando a quem matar se podia muito bem cumprir sua missão em um lugar somente. A cidade escolhida em pouco tempo cobriu-se de luto. Iku não poupava a ninguém, adultos e crianças, homens e mulheres, jovens ou velhos, passassem por ela, iriam para o túmulo.
A população entrou em desespero, não havia mais sossego, sair à rua tornou-se uma perigosa luta entre a vida e a morte. Todos se esgueiravam pelos caminhos mais recônditos rezando para não serem apanhados pela nova moradora. Quando o medo se tornou incontrolável, só viram uma solução, procurar por Oxalá e implorar sua ajuda para que o povoado não desaparecesse de vez.
Oxalá, depois de estudar o caso atentamente, aconselhou que fossem feitas diversas oferendas para muitos orixás e ao final, pintassem uma galinha preta com o giz de efum e a soltassem perto da morada de Iku.
Os mais velhos foram os escolhidos para esta última tarefa , com muito medo e sem entender como isso ajudaria no caso, pintaram as pontas das penas da galinha com o pó branco e a soltaram no quintal da casa da temida vizinha. Durante algum tempo nada aconteceu. Chegou então a hora em que Iku deveria sair para cumprir sua tarefa. Ao abrir a porta e dar de frente com aquele animal tão estranho que avançava para ela com as asas abertas, tomou enorme susto e imediatamente fugiu deixando a cidade em paz. Foi dessa forma que Oxalá criou a galinha d'angola e é em referência a esta passagem que nos candomblés as iaôs são pintadas como ela para que todos se curvem perante a sabedoria e compaixão do grande orixá!
Epa Babá Oxalá!
A população entrou em desespero, não havia mais sossego, sair à rua tornou-se uma perigosa luta entre a vida e a morte. Todos se esgueiravam pelos caminhos mais recônditos rezando para não serem apanhados pela nova moradora. Quando o medo se tornou incontrolável, só viram uma solução, procurar por Oxalá e implorar sua ajuda para que o povoado não desaparecesse de vez.
Oxalá, depois de estudar o caso atentamente, aconselhou que fossem feitas diversas oferendas para muitos orixás e ao final, pintassem uma galinha preta com o giz de efum e a soltassem perto da morada de Iku.
Os mais velhos foram os escolhidos para esta última tarefa , com muito medo e sem entender como isso ajudaria no caso, pintaram as pontas das penas da galinha com o pó branco e a soltaram no quintal da casa da temida vizinha. Durante algum tempo nada aconteceu. Chegou então a hora em que Iku deveria sair para cumprir sua tarefa. Ao abrir a porta e dar de frente com aquele animal tão estranho que avançava para ela com as asas abertas, tomou enorme susto e imediatamente fugiu deixando a cidade em paz. Foi dessa forma que Oxalá criou a galinha d'angola e é em referência a esta passagem que nos candomblés as iaôs são pintadas como ela para que todos se curvem perante a sabedoria e compaixão do grande orixá!
Epa Babá Oxalá!
Luiz Carlos Pereira
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